Serviços de entrega via aplicativos: uma nova forma de escravidão!
Notícias
como estas da matéria divulgada pelo site Neofeed.com.br (https://neofeed.com.br/
negocios/banco-digital-do-ifood-faz-o-delivery-de-seu-primeiro-bilhao-de-reais/)
mostram que nos dias atuais, e fazendo uso de tecnologia digital, empresas são
criadas quase do nada e em pouco tempo superam em receita e lucros grandes
conglomerados produtivos muitos dos quais há um século ou mais de existência.
Exemplo são a Microsoft, Meta (Facebook), Google, etc.
Agora
chegou a vez dos aplicativos (Apps), com destaque para o iFood que, de acordo
com a matéria anexada, ampliou seu portfólio de negócios construindo um banco digital
(“iFood Pago”) e, “em um ano fiscal que
se encerra em março”, ultrapassará R$ 1
bilhão em faturamento.
Frente
a isso há que se questionar: de onde vem esse crescimento e resultado
extraordinários de uma empresa que juridicamente sequer possui empregados em
sua base operativa. Ou seja, naquilo que em seu nome é realizado que são os
serviços de entregas executados por trabalhadores autônomos/motoboys (pois juridicamente
entre a empresa e estes não há vínculo empregatício), a circular por muitas e muitas
horas durante o dia e/ou noite (incluindo fins de semana), com uma caixa às
costas e em cima de uma motocicleta, senão bicicleta, da forma mais precária
possível, com todos os riscos físicos e emocionais inerentes esse tipo de
atividade.
A
razão para tanto é a obtenção de uma renda sempre aquém das suas necessidades, via
entrega de comida à clientela de bares e restaurantes conveniados ao aplicativo
quando eles próprios muitas vezes, ou quase sempre, não tem acesso a essa
alimentação por eles transportadas.
É
comum em hora de almoço vê-los parados em praças e/ou beiras de calçadas comendo
lanches e/ou salgadinhos tipos “snacks” (“preparados ou comprados prontos, como
as barrinhas de cereais, biscoitos, pipoca e outros itens industrializados”) visando
suprir minimamente suas necessidades alimentares e assim continuar sua longa e
arriscada jornada enquanto o iFood fatura alto com a superexploração do
trabalho alheio e sem contrapartida em termos de direitos.
Nesse
tempos de hegemonia econômica neoliberal
(desconstrução do Estado e dos direitos sociais e trabalhistas), o modelo de
exploração da força de trabalho para essa e outras categorias profissionais a situação é pior do que no período da escravidão, vez que tal como entregador de
comida via aplicativos, o escravizado
não possuía direitos, trabalhava de sol a sol, sofria violência de
diversas ordens, porém, bem ou mal, seu senhor era obrigado a alimentá-lo e, ainda
que em sistema prisional privado, controlado (a senzala) a oferecer-lhe dormida e, nos seus
adoecimentos, cuidar da sua saúde para continuar vivo e produzindo.
O
entregador de comida via aplicativos não goza de benefício algum nesse sentido.
Em regra, mora de aluguel em regiões bem distantes dos grandes centros urbanos,
sua precária remuneração vem do seu esforço cotidiano e dos riscos em cima de
uma motocicleta, ou bicicleta, em meio a um trânsito violento e caótico, sendo
ele responsável pelo veículo, combustível, sua alimentação, como aqui já dito,
precária, além da responsabilidade de cuidar de si caso sofra um acidente, bem como
outras formas de adoecimentos.
Não
há direitos trabalhistas constituídos que obriguem as empresas donas dos
aplicativos que controlam todos seus passos a lhe prestar atendimento material
em casos que levem ao seu afastamento do trabalho.
A
esse/a trabalhador/a lhe é dito, e justiça avaliza essa terrível mentira, que a
sua de situação não é de empregado, mas de empreendedor/a, patrão/patroa de si
mesmo/a (que possui a liberdade para empreender; que é livre para fazer a sua
própria jornada de trabalho, etc., etc.).
No
fundo não deixa de ser uma nova forma de escravidão tão ou até mais precária do
que as do passado, agora sem a preocupação do seu senhor em conceder qualquer benefício
em termos de direitos visando assegurar a esse/a trabalhador/a o mínimo de
dignidade.
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